domingo, 4 de dezembro de 2011

Natal de 52



Como diziam nas escolas de antigamente, descrição á vista da gravura.
E exibiam grandes e coloridas gravuras- onde terão ido?- com cenas
campestres, paisagens cheias de animais e flores. Neste caso, não é
gravura. Uma velha foto, enviada por um tio, já falecido.
Ficou inesquecível, um marco numa época de poucas câmeras e raras fotos.
Também muitas das pessoas retratadas já se foram, e só faltaria a
copia estar amarelecida, para dar o devido toque nostálgico. Seria
muito justo.
Mas não está. Todas figuras bem nítidas, bem como a memória daquele
momento mágico, perdido no passado. Local: casa de Tia Zilda, na R.
Albuquerque Lins, defronte ao Cine São Pedro.
Era Natal, a grande data do encontro da família Simões.
Muitos dos parentes vinham de outras cidades, como no nosso caso. Na
época, Tietê, onde meu pai administrava uma fazenda experimental. Era
uma quase obrigação, data oficial no calendário da vasta família. Uma
emoção entrar na velha casa, sentindo o agudo cheiro do pinheiro, de
bom tamanho, já montado e enfeitado na sala da frente.
A casa não era grande, como continha tanta gente ? O que se comia na
festa? Não lembro bem, mas talvez leitão assado, farofa, saladas,
panetone, as inevitáveis frutas secas.
Abria-se  cerveja, refrigerantes e enfim o espoucar da champanhe.
Peru, hoje encontrado em qualquer padaria, era coisa para milionário
naqueles tempos.
 A grande mesa era montada na sala de jantar, que durante os dias
normais era usada para as aulas extras de minha tia, professora da
Caetano de Campos. E os presentes? Existiam? Eram distribuídos ali,
para tanta gente ? Parece complicado.
-Mas você falou e falou. Cadê a descrição? Bem ,vamos lá.
O grande grupo ocupa toda a sala, vê-se ainda ao fundo uma chapeleira
e um quadro metálico da Santa Ceia. Ao fundo, a partir da esquerda
estão meus pais e os tios mais altos.
Nas  fileiras mais à frente minhas  tias, os tios mais baixos. Ao
centro, minha avó com seu sembrante severo, perfil de uma Sioux, a
grande dama da festa tradicional.
Teria mais de setenta anos, e viveria até os noventa e quatro
Na linha de frente, sentados, os baixinhos do pedaço; Tio Amador, do
Rio de Janeiro; meus primos pequenos, meu irmão, e bem ao centro estou
eu, vestindo absurdo paletó, apesar da pouca idade. Todos olham para a
câmera, operada pelo tio Rafael, o único ausente do instantâneo.
Mas fazem mais que isto: olham para o futuro. Para os Natais que ainda
viriam, para o mistério insondável do não acontecido...
Vejo, como num espelho distorcido, a imagem do jovem Luiz, que olha
diretamente para mim e pergunta o que fiz da minha vida, se consegui
conduzir-me bem, através de tantos descaminhos.
Bem ou mal, meu caro rapaz, não sei definir precisamente. Sou um
sobrevivente, atravessei muitos outros Natais, e espero resistir a
mais alguns.
Mas alguns nos marcam para toda vida, e este foi o caso daquele Natal
de 52, eternizado em preto e branco.

texto e foto enviados por: Luiz Saidenberg


6 comentários:

  1. as descrições das figuras nem isso mais existe nas escolas, por que será?
    aprendi tanto com as famosas descrições
    Velhos e bons festejos natalinos
    que dá saudade, dá

    Ana Maria

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  2. Saidenberg
    também tenho comigo guardado o Natal dos meus 7 anos e dos meus 14 anos, inesquecíveis!
    E muitos outros virão, lógico que com sabores e temperos tão diferentes!
    grande abraço

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  3. que foto do seu Natal de 1952 mais bela e que interessante descrição a sua

    Débora C. Andréa

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  4. mundo mágico perdido no passado
    você escreveu tudo

    abraço

    José Mario

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  5. E a gente também se encontra por aqui. Bela foto, bela descrição à vista da gravura com direito a muita emoção. Feliz Natal!

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  6. Olá, Luiz!

    Natais em família são tão bons!
    Nossa família também tinha o hábito de se reunir e a foto com todos reunidos era obrigatória.
    Bacana sua foto!
    Valeu!
    Muita paz!

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