Num determinado horário do dia minhas irmãs e eu, afoitas, subíamos as escadas de casa direto para o terraço e em questão de minutos surgia o gigante prateado, pomposo e barulhento:o avião!Durante muito tempo isso se tornou rotina para nós e sempre ficávamos perplexas!Afinal, nunca tínhamos visto um avião assim, quase nos céus....do nosso quintal!
Quando mudamos para o bairro Jardim Novo Mundo ou Vila Helena como alguns chamavam, a Rua Olivia que um dia apesar dos manifestos e tristeza dos moradores passou a se chamar Rua Embaixador Ribeiro Couto não tinha asfalto, mas tinha árvores dos dois lados da calçada. A casa de número 152 estava toda feia, judiada, mas em pouco tempo foi reformada, pintada e ficou linda, aconchegante, calorosa, cheia de amor e muita algazarra:cinco filhos!A casa tinha as portas abertas para os vizinhos e amigos...sempre recebidos pelos meus pais Altivo e Tina com um bom café e um gostoso arroz doce.
Um dia ganhei uma grande bicicleta e com ela desvendei passagens secretas, caminhos cortados entre os matos, pontes improvisadas com tábuas, uma delas a atual Avenida dos Bandeirantes, e passei a ter, com gosto de travessura, ali aos meus pés, as ruas do bairro:Catuiçara,Inahmbu,Cotovia, Ilamônia, Irauna, Pariquera-açu, Dr. José Cândido de Souza e as praças Paul Harris e Coronel Fernandes de Lima, Eucaliptos, Jauaperi,Arapanés...
E nessa mesma encantadora Rua Olivia,quase esquina com a pracinha, que pela primeira vez fui beijada,ou melhor, tive docemente os meus lábios tocados. Senti tremor nas pernas, o coração disparou...fechei os olhos e deixei o mundo rodar. O meu primeiro amor! Há muitos anos não moro mais na Rua Olivia, mas quase todos os dias caminho e me exercito na pracinha, onde surge a Rua Embaixador Ribeiro Couto, para mim eternamente Rua Olivia!
(texto escrito em 2008)