domingo, 30 de outubro de 2011

KRISTA MAFFIA



Krista  Maffia  você lutou como uma menina guerreira, lutou por você, pelo Cassinho, pela Lua, Adriana e Micaela.
Hoje o céu está com um brilho ainda, mais especial: uma maravilhosa estrêla chegou!


                                                                                                                                         

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Urubu dorminhoco

Domingo de manhã, eu estava dormindo. Foi em 1966. Vieram me acordar. Souberam que eu tinha um laboratório de fotografias em casa e precisavam dos meus préstimos. Estava acontecendo a Gincana Record, patrocinada peal Rádio Record, e o pessoal precisava de uma foto do Monumento do Ipiranga, aparecendo o chefe da equipe. A brincadeira era a seguinte: no rádio ouvíamos os pedidos que a emissora fazia de objetos, os mais esquisitos e escabrosos do mundo. Equipes inscritas que levavam tais objetos pedidos continuavam na gincana, senão eram desclassificadas. O vencedor final ganharia um fusca zero.

Fomos ao Ipiranga e tirei uma bonita foto do carinha descendo as escadarias do monumento. Nem precisei revelar, pois conseguiram a colaboração do Viotti, dono do laboratório do bairro, e fizeram as cópias do meu filme lá. Então, me convidaram para participar da gincana e eu passei o domingo inteiro naquela brincadeira. Lembro somente dos últimos pedidos.

O penúltimo pedido era levar um urubu. Falei pro meu amigo:
- Rápido, toca para a Marginal no Corinthians! Lá está cheio de urubus!

Chegando, era um lixão, dez da noite, a urubuzada dormia tranqüila. O motorista que me deixou lá, nem vi mais... Eu estava sozinho e via os bichos ali, à minha frente, quietos. Fui indo devagar, no maior silêncio, mas acho que essas malditas aves devem ter algum tipo de radar, porque, assim que eu estava há uma distância de aproximadamente uns 20 metros, todos eles começaram a levantar vôo, batendo aquelas asas enormes e pretas. Foi uma revoada geral!

Corri o mais que pude e vi um retardatário, acho que o mais “dorminhoco”, que tentava voar. Pulei e consegui pegar as patas dele no ar. Só que quando cai com o bicho nas mãos, o chão sumiu. Era um lixão ou um aterro, não sei definir bem. Só sei que eu e o urubu fomos para o fundo de um monte de barro, tão fundo que eu não conseguia apoiar o pé no chão e nem nada. O bichão, com as asas abertas, estava se apoiando na borda daquele poço de lama. Com uma mão, tento subir e a outra, segura fortemente “meu” urubu.                                                                         

Não sei como, não sei da onde, não tinha ninguém comigo, juro, mas apareceu uma mão e, segurando em minha mão livre, me ajudou a me apoiar na beira e sair dali. Agradeci o garoto que havia me ajudado, muito honrado. Ele disse que era um garoto da favela, mas eu não conseguia acreditar. Acho que era o meu anjo, isso sim!

Encontrei o meu amigo algum tempo depois, entrei no carro, que era um Simca francês, daqueles bem pequenos. O cara não estava acreditando no cheiro do urubu, era terrível!

O bichão estava quieto, mas acho que ele estava estranhando tal viagem. De repente, a ave assustou-se e tacou uma mordida no meu braço. Segurando ele pelas pernas e agora pelo pescoço, cheguei em casa para tomar um banho e eles levaram o pedido para a emissora.

Nunca mais vi o meu urubu. Minha mãe jogou as minhas roupas no lixo; o odor era horrível, não dava para aguentar!

O último pedido foi encontrar o Jair Rodrigues. Encontraram o cantor na Praça Buenos Aires e a minha turma ganhou o fusquinha! A Gincana Record era uma bela e divertidíssima brincadeira, mas haja coração e anjo!
texto e foto enviados por: Pedro Cardoso



quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Maria Stella Castelari Coimbra

















DONA STELLA   é a Rua Olivia, é a Embaixador Ribeiro Couto, é Moema!
PARABÉNS, 93  ANOS!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Parque de diversão Shangai

                                    meu pai e eu no brinquedo Bicho de Seda,  no Parque Shangai, em 1940

foto enviada por: Esther Saba

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Regina Cordovil

                                Antonio Aguilar e  Enzo de Almeida Passos me segurando no colo, em 1960

foto enviada por: Regina Cordovil

sábado, 22 de outubro de 2011

O guarda-chuva

Seu nome era Jaime. Êle cursava o científico e eu o clássico no Colégio Alberto Levy, no bairro de Indianópolis, e às vezes na hora do recreio a gente se esbarrava e jogava conversa fora. O Jaime era muito bonito, tinha um ar intelectual que fazia com que as meninas de A á Z esperassem, pelo menos, ouvir dele um oi. Daí eu tinha que aguentar as amigas torcendo para que nossos esbarrões se tornassem de fato, uma paquera.

No colégio o Jaime tinha a fama de ótimo fotógrafo e acabou me convencendo a posar para umas fotos e assim, numa tarde de verão, suas lentes captaram (em preto e branco) belíssimos momentos no Parque do Ibirapuera. Até hoje tenho as fotos, elas são as minhas preferidas.

As fotos nos aproximaram e passamos a ficar mais tempo juntos no recreio. Enquanto isso as minhas notas de matemática, matéria que eu odiava, começavam a cair e então o meu pai, a essa altura já bravo e preocupado, sugeriu que eu tivesse algumas aulas particulares. O Jaime ficou sabendo e se ofereceu para me ensinar. E em alguns dias da semana lá vinha o Jaime da sua casa na Avenida Piassanguaba,que ficava bem próxima do  Levy para a minha casa, em Moema.


Nas primeiras aulas eu me preocupava mais em me arrumar e ficar toda linda do que propriamente nos números, mas aos poucos alguns mistérios da matemática foram desvendados, passei a fazer bem melhor os exercícios em classe e a essa altura a paquera, a troca de olhares havia se intensificado, enfim as aulas já aconteciam com alguns suspiros!

Numa tarde de muita chuva em que achei até que o Jaime não vinha mais para dar aula, a campainha toca,abro a porta e vejo o meu professor, a minha paquera de guarda-chuva preto. Nossa, a cena foi terrível demais! Um dos meninos mais interessantes e paquerados do colégio, ali na minha frente de guarda-chuva. Mal prestei atenção na aula e não via a hora dela acabar. O Jaime foi embora, corri para o telefone para contar para as minhas amigas a cena mais horrorosa do planeta e para meu consolo todas foram unânimes: eu tinha toda razão!

Os dias foram seguindo e eu, com a ajuda das integrantes do clube da Luluzinha, fui me esquivando do Jaime,  arrumando desculpas para não ter mais aulas, às vezes nem saia para o recreio. Êle telefonou uma, duas vezes pedindo para a gente conversar, mas como eu podia explicar o que não tem explicação?

Um dia tomei coragem agradeci ao Jaime todas as aulas dadas, dei uma desculpa qualquer para que as mesmas não continuassem, lhe dei um beijo no rosto e prometi dançar com ele na próxima festinha e quando voltei para a classe, respirei mais tranquila, finalmente eu tinha me livrado do menino do guarda-chuva preto.                                                                                                                        

Até hoje quando vejo algum cara bonito de guarda-chuva acabo rindo e lembrando que numa tarde chuvosa deixei de suspirar por um menino incrível só porque ele veio à  minha casa de guarda-chuva.Adolescência é uma fase estranha, fala sério!

Marcia Ovando

          











terça-feira, 18 de outubro de 2011

Casa de vó

Ainda hoje, com quase 50 anos, consigo lembra-me nitidamente da minha saudosa infância. Fecho os olhos e como num passe de mágica consigo viajar rapidamente no tempo e lá estou novamente, primavera dos anos 60, no bairro de Moema, mais precisamente Rua Chanes.

Vejo a casa dos meus sonhos com um portão verde e um pequeno jardim muito bem cuidado com roseiras, a entrada lateral com caminho de cimento, além de hibiscos do lado e aquele cheiro gostoso no ar... A janela da frente com sua cortina, tudo sempre limpinho arrumado com esmero e cheirando bem.

Revejo minha avó com seus cabelos brancos e olhos azuis, tão cheirosa e tão bonita falando com seu sotaque carregado, afinal era alemã... Entramos na sala com os tacos de madeira encerrados e o barulho do velho relógio Junghans, que marcava os quartos de hora... O quarto de meu pai quando solteiro, o banheiro com seu aquecimento a gás e seus lindos tubos de cobre, a cozinha e o cheiro da comida... “Ah”, que saudades!

A porta de madeira com tela, que dava para o quintal, que tinha um poço de tijolos aparentes e um pequeno quartinho que meu pai construiu para guardar garrafas, mas minha avó utilizava para deixar o chucrute curtindo...

Dormir na casa da minha vó era sempre uma alegria... O mundo de aventuras no quintal, mas os anos passaram voando e há muito tempo, quando voltei para lá, a casa havia sido comprada por uma escola que alterou totalmente as suas características...

Uma pena, uma perda enorme! Mas assim como minha avó se foi, meu pai também e tantas outras pessoas queridas! Restou uma enorme saudade e um sentimento de agradecimento por poder ter tido uma infância feliz...
texto enviado por: Klaus Mock

domingo, 16 de outubro de 2011

Meu avô Roberto Lippi construiu êste casarão

                  Casa da Avenida Domingos de Moraes, tombada pelo patrimônio histórico, construida pelo meu avô Roberto Lippi, por volta de 1938

foto enviada por: Ronaldo Lippi

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Vicente Saguas Presas Junior

Coronel Vicente Saguas Presa Junior em 1932 era Tenente da arma de cavalaria e servia em Realengo,RJ.Deflagrada a revolução em São Paulo, êle se juntou às fôrças paulistas.Na derrota de São Paulo êle teve que fugir para a Argentina para não ser preso.Mesmo assim foi expulso do exército,perdeu a patente e foi considerado exilado político.Permanceu em Buenos Aires por um ano e meio,deixando no Brasil minha mãe e eu (com um ano e meio) e meu irmão.Fomos morar com o meu avô que era encarregado do primeiro posto telefônico montado em Osasco.Posteriormente Getulio Vargas concedeu anistia e êle retornou ao Brasil, sendo readimitido no Exército no posto de segundo Tenente.Ficou marcado porém, o que agtrasou e muito a sua carreira militar. Na década de 50 abandonou o Exército para ser Diretor do Serviço de Trãnsito (antiga DST) e lá permaneceu nos governos de Adhemar,Garcez,Carvalho Pinto e Janio Quadros.Foi também Presidente da Confederação Brasileira de Boxe e um dos principais responsáveis pela conquista,agindo nos bastidores,do título do Campeão Mundial Éder Jofre.

texto e foto enviados por : Valdir Saguas
                                                                             

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Meus treze anos......a segunda parte!

Depois de ter certeza que o dono do meu coração ia ao baile da Manja, tinha agora que pensar em que roupa iria usar, será que a minha mãe teria terminado minha roupa nova? Bom se ela não tivesse terminado, teria que pensar em uma alternativa rápidinho, meu babyllook rosa? Ou meu vestido camisa listrado?Ah! Queria tanto que minha mãe tivesse terminado minha calça rosa!
Voltando da casa da minha vó Marinha na Aratãns, desci até minha casa na Nhambiquaras, quase que correndo, mas não sem dar um espiada de rabo de ôlho na casa da avó dele para dar mais uma suspirada se ele estivesse por lá. Não estava... mas não faz mal, ele estaria na Manja logo a noite...
Chegando em casa minha mãe ainda estava as voltas com minha roupa, entrei esbaforida feliz e logo perguntando:
-Vai ficar pronta mãe, vai ficar pronta?
Minha mãe logo respondia
- Não me apresse menina pode deixar que na hora estará pronta...
As horas demoraram a passar, mesmo infernizando o Sr. Green (nosso papagaio) ou mesmo ouvindo algum LP dos Beatles... as horas passavam muito devagar...Meus pensamentos geravam sonhos, e eu imaginava uma noite dos céus!
Nesses sonhos vinham novos passos de rock a coreografia de Johnny Rivers em Secret Agent Man, e lógico, não podia deixar de sonhar com o meu rosto colado ao peito dele, pernas juntinhas, o carinho das mãos nas minhas costas e tudo ao som de "Do you wana dance" ou "My love for you" de Johnny Mattis, tudo regado de pura emoção dos meus treze anos!
A hora chegou e começou a correria: tomar banho, lavar a cabeça e me pintar, delineador, rimel, blush, era só começar, pintar os olhos, riscar as pálpebras, secar os cabelos e colocar a fita. Pronto! Era só colocar a roupa nova; calça boca de sino xadrez rosa e blusa branca, tambem boca de sino com babados na manga e toda a frente onde ficava os botoes de madriperóla.
- Esta linda! Dizia minha mãe.
Mas o que ela dizia não importava, o que inportava era o que ele pensaria ao me ver!
Com o rosto em braza (nem era necessário blush), eu chegava ao baile com a Sônia minha vizinha. Já ia encontrando toda a turma pelo caminho e pela porta de entrada mas dele... nem sinal..
Começavam as músicas, os pares iam se formando e eu dançava com quem estava sobrando - mas sempre de olho na porta do salão.Quando ele despontava na porta era uma tremedeira só, minha voz aumentava, eu falava mais que uma matraca e dançava mais que uma doida, não sabia o que fazer...
Tinha um amigo que sempre me acalmava, era meu anjo de proteção, dizia devagar pra não me apressar que o meu dia feliz estava me esperando e de alguma forma as palavras dele me ajudavam.
Então, devagar como uma onça para dar o bote na caça, ele chegou perto de mim e me tirou pra dançar, a musica era: "When I fall in love" de Nat King Cole. Nossa! Eu me sentia flutuando.
Naquela época ninguém sabia ingles, todo mundo cantava aquelas letras sem nada entender, a melodia dizia tudo, e por incrível que pareça as duas, música e letra, falavam de todos os sentimentos que naquele momento eu estava sentindo, mas o que interessava a letra? Eu estava nos braços dele; finalmente!
Depois de muitas músicas juntinhas e muitas outras soltinhas, ele me convidou para dar uma volta. Meio com medo mas com muita vontade, escapolimos dos olhos atentos dos adultos e fomos dar uma volta no quateirão...de mãos dadas!
Daí na Iraí com a Anapurus ele me encostou no muro, colocou uma mão na parede e com a outra mão segurou meu rosto e levou até o seu...
Uau! Foi meu primeiro beijo, longo, sentido, esperado e cheio de juras de amor...
Voltamos meia hora depois de mãos dadas,todos olhando sem perguntar nada. Não precisava. Meus olhos diziam tudo... meu amor era correspondido e isso era a coisa mais importante do mundo!
Aquela noite eu não sei como cheguei em casa, ele me acompanhou até a porta, me deu outro beijo inesquecível e eu entrei em casa, pulei na cama e dormi. Sonhei com dias maravilhosos como esse. Sonhei com muitos beijos iguais aquele, com muitos bailes de rosto colado, com sua voz sussurrando no meu ouvido, o quanto me amava. Sonhei que voava e do meu lado estava ele o dono daqueles olhos azuis, que era o dono do meu coração. Aquela noite :
Sonhei.....

texto enviado por: Iara Schaeffer

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Nossa primeira TV, uma Stander Carlson

Minha irmã Adail e eu com nossa grande TV Stander Carlson


1964, 19 :00 horas, hora da novela,"A moça que veio de longe", saímos correndo, eu e minha irmã, pra assistir na casa dos nossos vizinhos, Seu Castanheira e Dona Cecilia. Entravámos na sala e tiravámos os sapatos na porta, o ritual era obrigatório. Sentávamos no chão e esperávamos anciosamente pela abertura, Rosamaria Murtinho como a empregada Maria Aparecida, e Hélio Solto como o super galã Raul, gente era o máximo! Meus olhos não desgrudavam da tela, era pura emoção.
Um dia todos sentados, Sr. Castanheira apareceu com uma novidade; uma caixinha preta com um fio que ele ajustava atraz da TV e de sua poltrona ele aumentava e diminuia o som ou trocava o canal. Nossa! Nem precisava levantar! Eram os primeiros contrôles remotos chegando no Brasil. Eu só pensava: 'Seu Castenheira é rico, não só tem televisão como também tem uma caixinha mágica...'.
Alguns meses se passaram e uma noite meu pai e um amigo chegaram com uma caixa enorme em casa; era a nossa própria, primeira TV Stander Carlson! Dia de alegria completa, agora não precísavamos ir nos vizinhos assistir a novela, foi uma festa, a criançada toda da rua vieram assistir em casa. Sentavamos todos no chão e claro não existia ritual, de pés descalsos, nem muito menos a caixinha mágica preta. Grudávamos os olhos na telinha e na tv exelcior.
De vez em quando apareciam umas listras pretas verticais e meu pai ia atraz da tv arrumar no botão vertical, outras vezes, as listras eram horizontais e lá ia meu pai de novo no botão horizontal pra endireitar a tela. Nem preciso dizer que depois de alguns dias ninguém mais mexia nos botões, era tapa mesmo...
A coitada da TV apanhava mesmo: era tapa em cima, tapa do lado esquerdo, do lado direito ...e a bichinha se endireitava!
Um dia em nossos passeios à 25 de Março meu pai veio com uma folha de plástico colorida em degradé de vermelho, ele grudava na tela e pronto tinhamos TV colorida! Um espanto! Até que inventaram uma outra folha de cores do arco íris, aí não prestava, a TV ficava colorida mesmo!
Essa foi nossa primeira TV.
Depois vieram muitas outras e com elas a caixinha preta mais sofísticada, mas eu nunca consegui esquecer a Stander Carlson, umas das minhas primeiras alegrias ao mundo nosso de hoje, totalmente virtual.

texto e foto enviados por: Iara Schaeffer
                                                                      

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A sessão televizinho,como era bom!

Fomos uns dos primeiros moradores da segunda fase do loteamento da Vila Carmen, um pedacinho do Brooklin Velho. Logo depois de nós chegou a família do “seu” Coelho e dona Meireles, com seus 5 filhos – o sexto nasceu por aqui. Eram nossos únicos vizinhos, únicos amigos neste “fim de mundo” sem água encanada nem energia elétrica. Estávamos no ano de 1950.
Bem depois disso, não sei exatamente quando, ouvimos assombradas de espanto, da boca dos meninos da dona Meireles, que o pai comprara uma Televisão, uma espécie de rádio onde além de ouvir, podíamos ver as pessoas. No sábado susequente fomos convidadas para conhecer o aparelho e assistir a um programa de luta livre que levava os meninos ao delírio e já saímos de lá com o convite para voltar no domingo e ver o Circo do Arrelia.
Meus pais não tinham condição financeira para comprar uma TV e também não gostavam que incomodássemos as pessoas, assim só íamos de vez em quando para uma sessão de televizinho, mas como era bom!
Em 1958, a Maria José, filha mais velha do casal tornou-se minha madrinha de Crisma, a partir daí freqüentávamos mais amiúde a casa e assim foi até que, com 18 anos, comecei a namorar.
Para agradar meus pais, minhas irmãs e, é claro, manter-me mais em casa, meu namorado nos presenteou com um aprelho de TV, da marca Invicta, no ano de 1964, e essa foi a primeira TV de nossa família. Assistíamos a “Os reis do ringue”, bem como ao “Cirquinho do Arrelia”, transmitidos diretamente dos estúdios da Record, na Miruna. Lembro também que durante a semana, passava uma série chamada “Combat”, com cenas da violência e sangue, em branco e preto, que à época me aterrorizavam.
E, pensando agora enquanto escrevo estas mal traçadas linhas, me dou conta de que, até 2007, todos os aparelhos de TV que passaram por esta casa, foram presentes. Até o meu atual, ganhei da minha irmã quando vim para cá cuidar dos meus pais. Meu pai comprou, ele mesmo, um aparelho de TV, quando em 2008, foi apresentado a uma beldade de tela de cristal líquido de 37”, se encantou e teve seu primeiro arroubo consumista aos 88 anos de idade. Claro que todos queriam presenteá-lo, mas ele fez questão de pagar em 10 suaves prestações mensais sem juros.
texto escrito por: Lidia Walder

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

NOSSA PRIMEIRA TV

Minha irmã e eu ouvíamos falar  que logo chegaria ao Brasil um aparelho chamado televisor no qual se poderia ver os artistas na sala de casa. Éramos crianças ainda e exercitávamos nosso imaginário  criando imagens num velho rádio da marca Spalle que tinha um olho mágico, assim chamado o dispositivo que ao ligar o aparelho  se iluminava e se abria, como um olho, irradiando uma luz azulada. Eu encostava   o olho na luz azulada  e   dizia para ela:  “Estou vendo o locutor falando”,  e minha irmã pedia, “ Me deixe ver também”. Era pura fantasia. Tanta era nossa obsessão em ver nossos artistas favoritos do rádio que nossa imaginação, materializava imagens ao ponto de nos levar a descrever o tipo de roupa, a cor dos sapatos, o tipo de penteado. Afinal, nos anos 50 a televisão chegou ao Brasil. Naquela época de inicio da TV no Brasil, os aparelhos eram muito caros, todos importados,algo inacessível  para uma família como a nossa, custava quase o preço de um carro.Tanto é que demoramos um bom tempo para adquirir um aparelho. Fato socialmente curioso era o que faziam muitas pessoas, que não tinham aparelho de TV, para se darem um status de possuidores de um televisor. Compravam as famosas antenas espinha de peixe,ou pé de galinha, e as colocavam nos telhados alimentando uma mentira que enganasse a sua própria condição socioeconômica. Na vilinha onde morávamos, alí na Alameda dos Tabajaras,hoje Nhambiquaras, nosso vizinho Rogério, foi o primeiro a ter uma TV.Daí, como se tornou hábito naqueles tempos, formavam-se os “televizinhos”. Ele me permitia ver até tarde,na PRF3-Tupy, os filmes que se arrastavam, intercalados com tantas propagandas até a estação encerrar suas atividades. As vezes, para não me deixar sem saber o final, ele e a esposa iam dormir, pedindo para desligar o aparelho, fechar a porta e jogar a chave por baixo. Quando a TV passou a transmitir os jogos de futebol íamos, os irmãos mais jovens do Rogério e eu, a sua casa para assistir uma partida e as vezes à casa de um seu primo, corintiano, que nos recebia com uma felicidade imensa, já com um lanche preparado: salgadinhos e cervejas, para os adultos e refrigerantes para nós,os garotos.Lá na casa do Carlos vi o Corinthians ser campeão do IV Centenário. Ver TV se tornava um acontecimento social. A gente se preparava para ir a casa do vizinho, era visita mesmo. Lembro que minha mãe fazia um bolo de cenoura para levar e outros vizinhos levavam suco, salgadinhos,bolinhos de chuva, era uma festa. Todo mundo fazia silêncio durante a programação e só falavam, nos intervalos, comentando os produtos apresentados pelas  “garotas-propaganda”. Era tudo ao vivo. Lembro, se não me falha  a memória,uma primeira grande revolução nas transmissões,  quando apareceu o VT. Foi em 1959,na Continental do Rio e depois, em São Paulo, se fez uma propaganda para explicar o que era o VT, usando-se uma cena gravada com a Wanda Cosmo. Foi um assombro. Daí em diante não parou de evoluir, passando pela cor,até os dias atuais digital, plasma, LCD,3D etc. Cresceu em tecnologia mas não muito em programação. Nos primórdios a recepção em algumas áreas não era boa, muito ”chuvisco”. Tinhamos que subir no telhado e colocar um pouco de Bom Bril nas pontas da antena e ficar virando de um lado para outro até encontrar o ponto ideal para a recepção.  Um certo dia,como já mencionei,muito depois do advento da televisão no Brasil, chega em casa uma TV Semp, 17 polegadas. Era um móvel de mesa imponente com madeira circundando o enorme tubo. Meu pai quis fazer uma surpresa.Confesso que não lembro onde ele comprou, e não lembro de ele ter falado,talvez para evitar aborrecimentos com minha mãe pelas dificuldades que iríamos ter para pagar. Quando minha mãe perguntou, ele se limitou a dizer:”Pago, só com as horas extras que farei” Na época ele trabalhava no aeroporto de Congonhas, na Cruzeiro do Sul, antiga Condor, que mudou seu nome por volta de 1943, por causa de motivos políticos, por ser uma empresa alemã. Era tanto sacrifício que o coitado ia e voltava  a pé até Congonhas para não gastar a passagem de ônibus. Morávamos na Tabajaras (Nhambiquaras) quase esquina com a Jandira. Ele subia a Jandira até a Moreira Guimarães e de lá  ia até ao aeroporto, fazendo o mesmo caminho de volta.Mais tarde, pensando sobre a compra, deduzimos que só haveria dois lugares onde ele compraria, ou no Mappin ou na Sears do Paraiso, onde hoje está o Shopping Paulista. Penso que foi na Sears porque ele tinha um primo que trabalhava lá, na seção de eletrodomésticos, e que teria facilitado a compra a prestação. Foi uma festa. Minha mãe preparou um chocolate, com bolo e sequilhos e chamou os vizinhos para participarem daquela sessão  inaugural. Hoje, por mais que puxe pela memória,não consigo lembrar exatamente qual foi o primeiro programa que assistimos, só lembro que a sala estava cheia. Minha duvida está entre o Clube do Papai Noel, apresentado pelo Homero Silva e pela menina Sonia Maria Dorse, ou se foi O Mappin Movietone, Tele Jornal apresentado pelo Toledo Pereira.  Lembro de alguns programas que costumávamos assistir, por exemplo da Sarita Campos, infantil,  Palhinha filmando a rodada,esportivo. Sitio do Pica-Pau amarelo,infantil,entre outros.Depois da Tupy, resultado do sonho do empresário Assis Chateaubriand, Presidente do Grupo dos Diários Associados, vieram a TV Paulista, canal 5 e a Record canal 7.Durante um bom tempo a pequena sala de casa fervilhou de Televizinhos. Era um tempo em que os vizinhos se falavam, sentavam na calçada,pediam emprestado uma xícara de açúcar, ou pó de café e depois devolviam estendendo  um papo até altas horas. A Televisão mudou um pouco esses hábitos. Vejo com saudades aquele tempo, onde não havia Orkut, Twiter ou Face Book, e éramos felizes. Hoje, quando me convidam para participar dessas redes respondo que eu sou de um tempo em que era Face to Face, vis-à-vis, cara a cara, ou fazendo uma  analogia com termos ingleses, digo que prefiro o Face on Table, olhos nos olhos acompanhado de um chopinho, ou uma taça de vinho. TV, hoje, só com programas  selecionados a dedo.

Texto enviado por José Palma Bodra