quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Minha melhor inimiga!

                                         

Na época em que ainda era Instituto de Ensino Tabajara na Avenida Jurecê, encontrei lá uma professora maravilhosa chamada Maria Dalva. Ela era a nossa professora preferida de Geografia. Além de ser ótima professora ela nos cativava com seu carinho e atenção, acho que o que aprendi de geografia devo muito à ela e sua dedicação no ensino.Quando sua aula acabava, ela ainda ficava alguns minutos tirando nossas dúvidas conversando e brincando, era dureza deixar ela ir embora.
Um dia a nossa querida e preferida professora chegou na classe com uma menina lindinha, loirinha, de olhos azuis, nós apresentou como sendo filha de uma vizinha e que por algum tempo ela viria com ela nas aulas de geografia. Nossos olhos se encontraram e deles saíram faíscas.

Quase todas os dias de aula Dona Maria Dalva fazia algumas perguntas sobre a aula anterior e sempre havia muitas mãozinhas levantadas dizendo : - “Eu sei, eu sei...", mas no primeiro dia daquela visita inesperada a primeira mãozinha a levantar e apressadamente responder era daquela coisinha loirinha de olho azul, para desespero de todas as outras crianças.

Isso continuou acontecendo por algum tempo, e a paciência de algumas já estava acima do limite com aquela intrusa, e ainda por cima, preferida da NOSSA professora predileta!

Em um desses dias para que o animos se acalmassem, a Dona Maria Dalva pediu para que nós levássemos a garota para o intervalo para que ela brincasse conosco e assim possívelmente aceitássemos a tal intrusa.

Liderada por mim, claro, começamos a elaboração do plano: "Fora olhos azuis”.

Primeiro dia: a brincadeira era queimada, não tinha jeito a bola ia com toda força na menina, era bolada pra tudo que era lado, ela até fazia cara de choro mas aguentava numa boa!

Segundo dia: Cabra cega, não precisa nem dizer quem seria a cabra cega; colocávamos sempre ela por último, quando comessávamos a cantar:

nós: Cabra-Cega, de onde você veio?
Cabra-Cega: Vim lá do moinho.
nós: O que você trouxe?
Cabra-Cega: Um saco de farinha.
nós: Me dá um pouquinho?
Cabra-Cega: Não.

Ela saia de olhos vendados querendo pegar alguém, mas o povo sumia para outras bandas e ela ficava lá que nem uma barata tonta sem conseguir pegar ninguém…

Terceiro dia : Ceguinho. Colocávamos a venda nela e comessávamos a cantar:

   Pai Francisco entrou na roooda tocando seu violão
   Paranran pã pão
   e vem de lá seu delegado pai Francisco foi pra prisão
   Como ele vem todo requebrando parece um boneco desengonçado...

Quando ela vinha pra escolher alguém na roda a gente abria a roda e ela dava de cara com a parede... Saímos rindo abessa e como sempre ela não dizia um “a“ sequer!

Quarto dia: foguinho

Duas crianças segurando a corda começam a bater e falar:

Salada, saladinha
Bem temperadinha
Com sal, com pimenta
Fogo, foguinho.
Enquanto isso uma menina está pulando a corda. Ao pronunciar a palavra foguinho deverão girar a corda bem rápido. Quem conseguir pular mais rápido, sem esbarrar na corda seria a vencedora.
Quando chegou a vez da intrusa viramos a corda muito mais rápido do que de costume e puxamos a corda, ela tropeçou e caiu de joelhos. Resultado; ela não se conteu, não parou de chorar, machucou todo o joelho e aí  levamos a maior lição de moral de todos os tempos da nossa professora predileta!

Na próxima aula a intrusa não apareceu, eu fiquei feliz da vida pois apesar de não ter gostado da bronca que levei, o plano deu certo!

Tres anos depois o dinheiro começou a andar curto então fui obrigada a trocar de escola particular para escola Estadual. Naquela época algumas escolas Estaduais tinham um bom curriculum e portanto era muito difícil conseguir uma vaga, para isso tínhamos que fazer um teste. Na época o mais conceituado era o IEEPAL (Instituto de Ensino Estadual Professor Alberto Levy), na Av. Indianópolis, e foi para lá que meus pais resolveram me mandar.

Primeiro dia de aula, entrando pelo portão lateral, de longe, sentada no canteiro que ficava beirando as classes, com um montão de amigas, rindo e fofocando, quem estava?

Exatamente ...a intrusa ,agora no papel inverso... Meu Deus, tremi nas bases, agora sim vou entrar bem, pensei comigo.

Caminhei vagarosamente pela entrada e fiquei aguardando. Ela levantou, colocou a mão na cintura e começou a gargalhar:
                    Voce aqui é?! Disse ela.

Eu fiquei de boca calada ,esperando...

Ela veio até onde eu estava e me deu o maior abraço.
 
Isso foi em 1968. De lá pra cá muitas e muitas histórias pra contar dos nossos cinquenta e tr a lá lá anos de uma eterna amizade que começou mal mas caminha de vento em popa!


                                         Minha amiga Iná  e  eu                
texto e foto de: Iara Schaeffer
                                                              


7 comentários:

  1. marta ovando obara11/18/2011 3:26 PM

    Iara que delicia ler seu texto..ri e tambem senti a maldadezinha mas o importante e que entre o ciumes e amizade, voces ficaram com o amor e uma eterna amizade.abraços pra voces duas, Marta,

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  2. Que lindo!!! Adorei!!! Minha mãe sempre boazinha, rsrsrs.
    Beijao,
    Tata

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  3. Olá, Iara!

    Que bacana sua amizade com Iná... A forma como começou e como seguiu, mostrando lições valorosas.
    Muito bacana!
    Parabéns!
    Muita paz!

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  4. Iara

    ..e lá se vão 50 anos de amizade!Maravilha!
    E aí Iná gostou da homenagem da Iara?

    abraços

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  5. Fico impressionada com sua memória. Lembrei de todas as musiquinhas....que legal!!! E como a gente era e é ruinzinha (as vezes).... lembrou meu irmão que deu quando tinha uns 10 anos, oleo de mamona para um cadeirante da idade dele tomar...coitado!!!e xixi numa garrafa de guaraná para mim....minha mãe deixou os dois de castigo...sacanagem!!! Adorei o texto!!!!

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  6. Olá amiga,

    Adorei sua mensagem. Reconheço que sua memória é excelente.
    Nossa amizade perdurará por muito tempo mesmo tendo começado de uma forma "dolorida".
    Fiquei muito emocionada com sua lembrança e carinho.
    Obrigadão
    Bjs
    Iná

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  7. é a gente nunca sabe as ironias que o destino nos prepara ! adorei teu texto

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