sábado, 22 de outubro de 2011

O guarda-chuva

Seu nome era Jaime. Êle cursava o científico e eu o clássico no Colégio Alberto Levy, no bairro de Indianópolis, e às vezes na hora do recreio a gente se esbarrava e jogava conversa fora. O Jaime era muito bonito, tinha um ar intelectual que fazia com que as meninas de A á Z esperassem, pelo menos, ouvir dele um oi. Daí eu tinha que aguentar as amigas torcendo para que nossos esbarrões se tornassem de fato, uma paquera.

No colégio o Jaime tinha a fama de ótimo fotógrafo e acabou me convencendo a posar para umas fotos e assim, numa tarde de verão, suas lentes captaram (em preto e branco) belíssimos momentos no Parque do Ibirapuera. Até hoje tenho as fotos, elas são as minhas preferidas.

As fotos nos aproximaram e passamos a ficar mais tempo juntos no recreio. Enquanto isso as minhas notas de matemática, matéria que eu odiava, começavam a cair e então o meu pai, a essa altura já bravo e preocupado, sugeriu que eu tivesse algumas aulas particulares. O Jaime ficou sabendo e se ofereceu para me ensinar. E em alguns dias da semana lá vinha o Jaime da sua casa na Avenida Piassanguaba,que ficava bem próxima do  Levy para a minha casa, em Moema.


Nas primeiras aulas eu me preocupava mais em me arrumar e ficar toda linda do que propriamente nos números, mas aos poucos alguns mistérios da matemática foram desvendados, passei a fazer bem melhor os exercícios em classe e a essa altura a paquera, a troca de olhares havia se intensificado, enfim as aulas já aconteciam com alguns suspiros!

Numa tarde de muita chuva em que achei até que o Jaime não vinha mais para dar aula, a campainha toca,abro a porta e vejo o meu professor, a minha paquera de guarda-chuva preto. Nossa, a cena foi terrível demais! Um dos meninos mais interessantes e paquerados do colégio, ali na minha frente de guarda-chuva. Mal prestei atenção na aula e não via a hora dela acabar. O Jaime foi embora, corri para o telefone para contar para as minhas amigas a cena mais horrorosa do planeta e para meu consolo todas foram unânimes: eu tinha toda razão!

Os dias foram seguindo e eu, com a ajuda das integrantes do clube da Luluzinha, fui me esquivando do Jaime,  arrumando desculpas para não ter mais aulas, às vezes nem saia para o recreio. Êle telefonou uma, duas vezes pedindo para a gente conversar, mas como eu podia explicar o que não tem explicação?

Um dia tomei coragem agradeci ao Jaime todas as aulas dadas, dei uma desculpa qualquer para que as mesmas não continuassem, lhe dei um beijo no rosto e prometi dançar com ele na próxima festinha e quando voltei para a classe, respirei mais tranquila, finalmente eu tinha me livrado do menino do guarda-chuva preto.                                                                                                                        

Até hoje quando vejo algum cara bonito de guarda-chuva acabo rindo e lembrando que numa tarde chuvosa deixei de suspirar por um menino incrível só porque ele veio à  minha casa de guarda-chuva.Adolescência é uma fase estranha, fala sério!

Marcia Ovando

          











13 comentários:

  1. Muito bom, tive 1 problema parecido : o dia que vi a minha paquera com capa de chuva,quase sai correndo kkkkkk adolescência!
    abraço

    Maria Silvia

    ResponderExcluir
  2. a verdade é que achamos tudo tão estranho nessa época das nossas vidas


    Maria Lucia

    ResponderExcluir
  3. "Olhar adolescente" - só Deus entende! Aos 15 anos me apaixonei por um par de olhos azuis dentro de um bonde. Quase não lembrava do dono dos olhos, mas depois de quase 1 ano de busca, encontrei o rapaz reconhecendo os olhos. Fazendo um trocadilho: achei e perdi, num piscar de olhos, em menos de um mês, ele foi para o seminário. Hoje vejo que ele não tinha nada de especial, nem bonito era, mas aqueles olhos...

    ResponderExcluir
  4. Lidia e que olhos êle devia ter, heim?

    Marcia fiquei imaginando a sua cara vendo o incrível Jaime chegando com o guarda-chuva, ainda mais naquela época , sei lá hoje todo mundo usa, mas parece que naquela época só os adultos usavam

    abraço

    Maria José

    ResponderExcluir
  5. Márcia,

    Agora sabendo de todos os detalhes sórdidos da sua história de um amor perdido não posso mesmo te perdoar!!!

    Tudo bem que a pouca idade não nos dá discernimento suficiente, mas perder um amor, como parecia ser aquele, de um cara inteligente, dedicado, precavido e obediente(afinal ele deve ter escutado a mãe o mandando levar o bendito, naquele dia de chuva) por razão tão boba, não dá!
    Além disso, você sabe da minha paixão por guarda-chuvas, não é?

    Ainda assim, adorei teu texto e fico feliz por tê-lo inspirado, parabéns.

    ResponderExcluir
  6. minha amiga Suely não era amor, era apenas uma paquerinha!
    abraço grande

    ResponderExcluir
  7. Olá,Márcia!

    Feio ou bonito,tudo depende do referencial, né?!
    Mas,foi bom saber umpouco mais de sua história, sua adolescência.
    Valeu!
    Muita paz!

    ResponderExcluir
  8. SONINHA

    aí nesse caso não era uma questão de feio ou bonito e sim de esquisito, estranho.Hoje em dia todos usam guarda-chuva,mas naquela época os adultos é quem mais usavam...Era muito raro ver algum colega, amigo de guarda-chuva!
    abraço

    ResponderExcluir
  9. marta ovando obara11/03/2011 7:44 PM

    minha irmã acho que era mal de familia mesmo porque aconteceu o mesmo comigo,lembra do Carlos,apelidado de Peru,então. o dia que ele chegou em casa de guarda-chuva e calça de terno, quase morri e pedi pra mamãe dizer que não estava.No outro dia ele apareceu de jeans e camiseta azul e com aqueles olhos tambem auiz e ai já me apaixonei de novo. era paixão so sem guarda chuva,que bobeira que adolescente tem, ta louco .so rindo mesmo..Beijocas da tucha.

    ResponderExcluir
  10. falando das fotos que o Jaime tirou, são as fotos mais lindas que vi,e logico que a modelo faz jus a belesa,Mai coloque estas fotos, vai,beijoca da tucha

    ResponderExcluir
  11. Marta ri muito com o seu comentário,não me lembrava do Carlos que virou Peru(apelido dado pela Mê)kkkkkk

    que gostoso: uma casa: pai,mãe, quatro irmãs,um irmão

    ResponderExcluir
  12. fiquei imaginando a cara do Jaime, acho que até hoje êle não entendeu nadinha.
    a verdade é que a gente implicava com bobagens, para os outros, pois para a gente devia ser questão seríssima
    muito bom

    Maria Inês P.Silva

    ResponderExcluir
  13. kkkkk Marcia eu li e postei um comentario mas nao deu certo pq nao estava no meu computador!!!!
    Ri muito com a historia pq só pode ser coisa mesmo de adolescente ...affff!!kkkk

    ResponderExcluir