domingo, 21 de agosto de 2011

Sábado na Nhambiquaras com meu pai...




Normalmente era aos sábados, a vizinhança da Nhambiquaras se movimentava ,meu pai acordava já ligado no 220w colocava o HI Fi no último volume e normalmente o som do Glenn Miller soava nos corredores dos vizinhos ,o cheiro suave do café chegava até minha cama então querendo ou não eu tinha que me levantar,meu pai cuidava dos passarinhos ,tinha muitos deles ,depois para a felicidade de todo mundo ia limpar o galinheiro, “Ronnie Von” ,”Vanderlea”,”Roberto Carlos", todos espertos para sair e siscar soltos no quintal,também tinha o Rex um vira lata que meu pai insistia em dizer que era pastor alemão capa preta e quando meu pai soltava as galinhas e galos cantores o Rex saía correndo atraz delas e meu pai atraz dele gritando : “Solta Rex ,Solta...”O dia começava agitado na Nhambiquaras 1308...
Quando chegava 11:00 mais ou menos o “SEU" Castanheira ,nosso vizinho do lado direito passava uma tábua do muro dele para o nosso e subia em uma escada (o muro dele era mais alto q o o muro de casa ) ,daí passava por ela os copinhos de rabo de galo azeitonas e tremoços, a conversa ia longe muita risada e muitos copinhos depois o baile da noite já estava combinado.
Aproveitando a deixa da conversa dos dois eu saía e ia jogar taco na rua muitas vezes só com os moleques outras a Sônia ou a Bete entravam na turma , depois de muitos pontos perdidos íamos comprar balas no barzinho de garagem na Jurucê entre a nossa rua e a Maracatins, às vezes encontravámos com a Dna Joaninha ,que morava na esquina da Jurecê, minha professora do primário do Tabajara ,como era chamado nos anos 60 outras ,ficavamos de "butuca” na casa vizinha a da Dna Joaninha onde se dizia que moravam uns estrangeiros que gostavam de andar pelados,lógicamente com portões e muros altos não víamos nada mas isso não impedia de nós nos espreitássemos pelas fechaduras e rachaduras para tentar dar uma espiadinha... Às rizadas voltavámos para casa como se tivéssemos feito um grande feito,mesmo sem ver absolutamente nada era como se tívessemos!!
As tardes eram menos agitadas ,depois de tantos rabos de galo e conversa jogada fora meu pai cochilava no sofá ,minha mãe vivia às voltas com a costura e eu se não estivesse infernizando a vida de um papagaio esperto que tínhamos chamado Seu Green,ou ajudando a Dna Tereza ,mãe da Sonia a desvirar as bolsinhas de plásticos que ela costuma costurar à toneladas,estava na “tia” Cecilia carinhosamente chamada por todos ,dizendo ajudar ela a fazer o mais deliciosos pãezinhos de maça que eu já comi na minha vida!!!!Saia sempre com as mãos em conchinha carregada deles quentinho hummmm...
Quando meu pai acordava já estava ligado de novo no 220w ,lavava o banheiro a cozinha o quintal e tudo que pudesse jogar água ,eu me divertia com isso ...era como sábado na piscina ,eu só ouvia minha mãe gritando : “Tinôco olha essas meninas ensopadas!!!!!” Não tinha jeito ninguém prestava atenção …
Depois do jornal da rede tupi “Reporter Esso” , que meu pai assistia com muita atenção na nossa tv Standard Carlson , (com plástico colorido degradee na frente para imaginar côr ),ele começava a se agitar para o baile .Seu Castanheira o chamava e no salão nos fundos da casa dele ele ligava a vitrola meu pai trazia os Lps com as grandes orquestra numa sequência de mambos,rumbas,cha cha cha e tangos e entre elas alguns artístas que se abriam para o meu mundo como Roberto Carlos ,Golden Boys etc.
Normalmente eu dançava orgulhosamente com ele e muitas vezes sentava admirando todos os casais dançando rindo bebendo se divertindo em família pais filhos e netos . Muitas vezes ao som do Glen Muller meus olhos quase se fechavam as luzes e o som formavam pingos de luz coloridas rodopiando,dançando no ar eu sentia ser içada ... ,fechava os olhos e então os abria ... manhã de domingo ; êba é dia de Ginkana Kibon na Record!!!!!!!!

texto enviado por: Iara Schaeffer

7 comentários:

  1. Iara,que delícia de texto.
    Boas lembranças de sua vida e de seu pai!
    Aos domingos,meu amadopai também cantarolava bemalto e nos acordava...e nem ficávamos com raiva,pois era sinal que ele estava feliz e ficávamos também
    Valeu, Iara.
    Muita paz!

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  2. Iara
    que delícia de lembranças com o seu pai e lembrar então da Ginkana Kibon....êta maravilha: um bairro todo animadíssimo tentando solucionar as provas.Muito bom!
    abraço grande

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  3. viajei no tempo com essa sua história, vivi todos esses momentos
    gostei muito muito

    Maria José

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  4. Nossa! lembrei da Ginkana Kibon e daquele plástico. Que coisa surreal aquilo. Amei suas memórias. Abraço. Lidia

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  5. quantos bons momentos você teve ao lado do seu pai,parabéns pela história muito linda

    Tania Maria

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  6. Eu vivenciei essa época, você me fez voltar no tempo e isso foi muito bom. Também morei em Moema na Av. Juriti, bons tempos. Seu pai deve estar feliz com a homenagem. Parabéns pelo texto. Bjs.

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  7. marta ovando obara8/22/2011 8:02 PM

    Que gostoso relembrar..tempos bons principalmente por estar com o pai.Ele com certeza esta orgulhoso de você e ouvindo gren miller feliz e feliz.Abraços Marta.

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