segunda-feira, 13 de junho de 2011

Moema nos anos 60



Quando fui morar no Jardim Lusitânia, o único lugar por perto que se tinha para compras era Moema.
Pegávamos o bonde na esquina do que é hoje a avenida Ibirapuera com a rua Pedro de Toledo. Ali era um lugarzinho ermo e descampado, onde só havia poucas casas, sem calçadas, e os trilhos do bonde, que eram instalados em dormentes sobre o chão de terra socada.
Não sei por que os trilhos do bonde sempre eram acompanhados por uma porção de pedras mais ou menos grandes, do tamanho das pedras dos mosaicos portuguêses que se vêm por aí...
Em direção a Moema, a vista era aberta e o bonde passava, balançando para um lado e para outro, ao lado do clube Monte Líbano que fica na avenida República do Líbano, esquina com a atual avenida Ibirapuera, e lá havia outro ponto de parada do bonde.
Atravessar a República do Líbano era fácil, pois não havia quase carros. Às vezes, quando vinha alguma autoridade, chegando pelo único aeroporto da cidade, era nessa avenida que ficávamos para assistir o cortejo de carros oficiais, os "chapa branca"!
Eu me lembro do Giovanni Gronchi passando por lá e minha prima falando em voz alta: "signora Gronchi, anch′io mi chiamo Carla!" A esposa do Giovanni se chamava Carla, como minha prima, que queria de qualquer maneira, dar o seu recado do alto dos seus 10 aninhos!
Havia um supermercado nesta última esquina, o Peg-Pag, uma novidade, mas se quiséssemos seguir no bonde, desceríamos no ponto em frente à Igreja N. Sra Aparecida, ou adiante, no "balão do bonde", acho que na Macuco.
Ali havia uma série de lojas como a de ferragens, mais adiante a Casa Eurico que penso que ainda exista e a Sulamita de aviamentos. Depois de Moema, o bonde continuava seu andar de pato, com seu som característico de ferros batendo e seus guinchos nas freiadas.
Embaixo de um dos bancos de madeira havia areia, para ser usada em caso de incêndio, mas sem instruções e, pedia-se para o motorneiro parar puxando uma corda de couro que ficava à nossa disposição em toda a extensão do bonde, acionando um sininho.
O interior era marrom avermelhado característico de todos os bondes, seus banco eram de ripas de madeira nobre, anatomicamente desenhados, e para nosso deleite e por falta de coisa melhor para fazer, líamos as famosas propagandas que nunca eram trocadas e que, por isso, ficaram gravadas nas mentes de quem usava esse meio de transporte.
Outro dia, na frente do antigo Mappin, reparei que a reforma que a região está sofrendo, respeitou um pedaço de trilho desenterrado, que assim, ficou exposto e ganhou placa para explicar para quem não conhece, o que são aqueles dois pedaços de ferro em paralelo, enterrados no meio do asfalto!
texto enviado por: Silvana C. Boni




3 comentários:

  1. Luiz S. Saidenberg6/14/2011 1:57 PM

    Belo texto, Silvana. Esquecia-me que vc morou no Jd. Lusitânia. O ruído guinchado dos bondes, que ainda pode-se ouvir na Pça. Mauá, em Santos. Creio tb que em Sta. Teresa, no Rio, mas jamais tomei esse bonde. Era lírico e simples e agora encontra-se perto do Mappin um resíduo dessa época, um trecho de trilho, como as costelas de um tiranossauro, há milhões de anos extinto...abraços.

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  2. andei muito de bonde e como era famoso o balão do bonde, sempre por ali ficavam alguns meninos esperando para dar tchau para as meninas que continuavam a viagem com o bonde e lá ia minha irmã e eu até a parada Vila Helena.
    abraço

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  3. Inesquecíveis passeios de bonde.Fiz durante anos o trajeto até Santo Amaro passando pela loja Sulamita, a fábrica de linhas etc..
    Gostei da história

    Ana Tereza Gouveia

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