segunda-feira, 2 de maio de 2011

CRONICA DO DIA-A-DIA

São Paulo é uma cidade de vida intensa, que permite ao observador a descoberta de uma história em cada um das suas esquinas. Cada transeunte desta megalópole traz no seu rastro uma intensa história, repleta de amores, desamores, aventuras, perigos, bondades, maldades e tudo o mais que uma pessoa, por mais simplória que seja, vive ao longo de sua existência.

Hoje eu vou escrever sobre uma pessoa fisgada nessa multidão de viventes da paulicéia e seu mais fiel amigo. Atendendo a compromissos profissionais, notei que circula pelas ruas de Sampa, um carrinheiro (será que existe o termo?) catador de papéis e sucatas.

Como regra geral, é uma pessoa humilde, que traja roupas já rotas e marcadas por uma imundice notória às vistas e ao olfato. Não é mais nem menos comum do que muitos com que deparamos todos os dias.

Não sei, mas acredito que sua subsistência se faz mais pelo consumo de alguns tragos diários do que por ingerir com certa normalidade algum alimento.

Bem, essa figura, no seu caminhar indolente e até arrastado por um cansaço mais moral do que físico, é acompanhada por um cão que, um dia, deve ter sido de cor branca com manchas amareladas (e que hoje está tão encardido como o próprio dono).

De tanto ver essas figuras foi que percebi a lealdade e o grau de cumplicidade que as une. Tanto o homem como o cão são inseparáveis. Hoje, por exemplo, pude perceber a fidelidade do cão que, notando que seu dono ou companheiro estava sendo hostilizado (por brincadeira) por um outro pária das ruas, latia e, destemidamente, ameaçava investir contra o ofensor e era contido, a duras penas, pelo dono.

Assim, vendo a cena, consegui concluir, mais uma vez, que a amizade e o afeto independem de condições sócio-econômicas e são regidas, simplesmente, por harmoniosas ondas emitidas pelo coração.

Nova lição que a vida me ensinou, dentre tantas outras que aprendi, nos meus anos de vivência. Mais um instantâneo registrado no cotidiano das ruas da minha São Paulo.

escrito por : Miguel Chamma
 

3 comentários:

  1. Miguel,

    Seu texto é de uma sensibilidade comovente. Milhões de pessoas passam a margem dessa gente sem eira nem beira todos os dias sem sequer as perceber, enquanto você dá a uma delas a dignidade de ser pelo menos observada.

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  2. A cidade já não tem mais espaço para os carroceiros ou como vc escreve carrinheiro.Às vezes em um e outro canto da cidade tem um passando sempre com um ou mais fiéis escudeiros.
    Na Arapanés quase esquina da Ibijau tem um carroceiro que há anos ali faz o seu descanso, mas o seu fiel companheiro é de uma braveza só: se passar por perto:êle avança.
    Miguel obrigada pelo belissimo texto.

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  3. MariA fERNANDA5/25/2011 2:22 PM

    Adorei o texto, Miguel. Só pessoas muito sensíveis podem observar cenas assim. Sou hiper cachorreira e morando no interior ainda veja cenas dos carroceiros com seus maiores amigos. E como cuidam de seus compenheiros.

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