Avenida Macuco, ano 1946
Escrevendo isso agora tomo consciência de que amor aos brincos é uma característica que me acompanha. Não uso maquiagem,não pinto os cabelos, sou bem relaxada quando se trata de vaidade,mas nunca saio de casa sem brincos, é como se faltasse uma peça de roupa. Foi nessa rua em Moema, que até meus 4 anos e meio, morei numa casa de fundos.
Nossos senhorios eram os irmãos Crêem já idosos: João funcionário administrativo da Light, Leonor organista da Igreja Metodista, Amélia dona de casa e Mario, professor primário aposentado e pastor da igreja Metodista, que eu chamava de avô.Vivia comigo nos ombros,contando histórias e ensinando-me hinos evangélicos.
Todos os dias colocava-me sobre o muro que nos separava da chácara de verduras e cabras e durante horas conversava com o proprietário, seu José, um português de meia idade, muito simpático,que assim que me via exclamava:"Bom dia rica menina,como estás?".Eu gostava do jeito dele falar, que logo só falava o português de Portugal, para desgosto da minha mãe.
Aos domingos ia com meu pai à confeitaria alemã de seu Estegman,na Avenida Jandira,ao lado da casa Eurico de calçados.Comia uma bomba de chocolate e toda lambuzada ia ver o tanque de carpas vermelhas da indústria Aço Brasil, na Macuco esquina co m a linha do bonde,depois visitava a loja do Ernesto Cinquetti, parente distante da Gigliola e candidato a vereador. Cinquetti,muito bom, ajudava a todos. Foi ele que pagou a lotação para meu pai, desempregado, trazer da Maternidade São Paulo,na Frei Caneca, minha mãe e eu, naquele difícil ano de 1945. Outra parada era na farmácia so seu Domiciano, um farmacêutico prático, curandeiro de todos nós. Foi ele que furou as orelhas e colocou meu primeiro par de brincos- isso não posso esquecer.
No quintal de nossa casa, moravam também dona Etelvina e seu filho Titico, que nas horas vagas tocava bandolim para mim. Bem próximo,na Rua Arapanés,moravam meus avós, meu tio, a dona Tegna, uma judia que jogava no bicho todos os dias e tricotava luvas de linha finíssima, enquanto conversava com vovó. Havia também a dona Maria, enfermeira e massagista cujo filho suicidou-se e seu Dário, dono do armazém, que vendia fiado,"na caderneta". A Aço Brasil consumiu-se em um incêndio,acho que em 1948. A Casa Eurico ainda está lá, no mesmo lugar,vendendo calçado de tamanhos especiais, do Cinquetti, fui professora de uma sobrinha neta em 1988 e exceto meu pai, todos os outros já faleceram. Aquele pedacinho da cidade com seus moradodres amigos e solidários era o mundo que eu conhecia a parte da história de São Paulo que eu vivi que posso e devo compartilhar, sem saudosismo!
escrito por: Lidia Walder
Ana Maria a avó de Lidia morou na Macuco número 26 em 1929 e a casa onde a Lidia morou hoje é o Hortifruti Oba.
lendo sua história fiquei sabendo de coisas que nem podia imaginar, e com que amor voc~e fala dos vizinhos,da familia.Escreve mais.
ResponderExcluirMaria do Socorro Barcel
Lidia sua historia e muito linda.Imagine e que senti pois moro na avenida Macuco hoje repleta de predios e de transito nem falar.Os vizinhos ja nao sao como antes e cada um pra si e si mesmo.Agora quando for ao Oba vou pensar em voce. na chacara e na vidinha mais serena.Abraços
ResponderExcluirmeu pai trabalhava na Sherwillians, na av. Jandira, comprávamos sapato na casa Eurico também, e meu avô, isso em 1951, mais ou menos, me levava pra ver desenho na televisão da farmácia do balão do bonde, onde trabalhava neu tio José Corrêa. E é verdade mesmo que Ernesto Cinquetti ajudava a todos e graças a ele tivemos uma festa de formatura do Ginásio Alberto Levy, em princípios de 1964, porque todos queríamos festa, mas houve uma confusão e a festa havia sido suspensa. O sr. Cinquetti conseguiu que a festa ocorresse no salão dos aeroviários, na Av. Moreira Guimarães. Que vida deliciosa tínhamos naquele tempo, pena que nossos netos não vão nunca conseguir aproveitar a infância como nós.
ResponderExcluirBranca, obrigada pelo seu comentário.Vou postar esse comentário na página principal e se você tiver alguma foto e mais fatos, momentos para contar ,por favor me escreva: pode postar mensagem in box no face meu nome: Marcia Mai Ovando
ResponderExcluirBranca em que rua você morava? Na Macuco? postei o que você escreveu na primeira folha.
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