segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tragédia em Santa Maria sob o olhar do músico Ronaldo Lippi ,da Banda Hot Rocks



Terrível a tragédia que atingiu o município de Santa Maria e a todos nós. Fico pensando e lembro que poderia ter sido em qualquer lugar, até em um dos bares onde costumo tocar.Alguns poucos deles tem em seu quadro de funcionários uma brigada de incêndio e esses devem ser valorizados,mesmo que isso não seja a garantia absoluta de que esse tipo de fato não possa ocorrer.Agora com em todas as tagédias,começam a procurar os culpados.Foi o cara da banda que acendeu fotos que deram início ao incêndio, foram os donos da boate que permitiram que se usassem artefatos desse tipo em um ambiente potencialmente perigoso, foi o cantor da banda que não soube usar o extintor de incêndio,foi o responsável pela manutenção do extintor,foi a direção da boate que permitiu super lotação,foi o responsável pela decoração da casa e pelo uso de materiais inflamáveis, foram os seguranças que  impediram que as pessoas deixassem o local sem pagar as contas,foram as autoridades que deram alvará de funcionamento para um local sem  equipamentos de segurança necessários,foi a falta de sprinklers, foram legisladores que não criaram leis específicas para impedir esse tipo de fato...
Enfim,nunca vai se saber quem são os culpados.Foram todos esses, ou nenhum deles. Foi apenas uma fatalidade ou uma tragédia anunciada.Não importa.Ninguém vai trazer os jovens de volta.
Eu cá com meus botões,fico analisando a situação,e percebo que a culpada é a loucura.
Nós estamos vivendo um momento onde a palavra de ordem é a loucura.Quem promove eventos, seja em casas fechadas ou em espaços abertos,usa a loucura para faturar.A loucura de ganhar dinheiro é a primeira.Quem sai na "balada" não pretende apenas passar algumas horas agradáveis,curtindo uma boa música ou um bom papo com os amigos,sai para a locura... quanto mais "loko"  melhor. Quanto mais bêbado conseguir ficar,mais "loko",melhor...
A música, que tem sido minha profissão em quase meio século ,deixou de ser o foco,passando a ser apenas um elemento provocador da loucura. Nós,músicos, ficamos reféns da loucura.No meu caso  específico,neste momento, tocando rock,somos obrigados a apenas agitar,pois músicas mais calmas não atendem a necessidade da loucura. Quando ousamos em tocar alguma coisa mais sossegada,recebemos críticas imediatas, tendo do público quando dos responsáveis pelos locais onde estamos tocando.Então trabalhamos no fio da navalha.Não podemos mesclar diferentes tipos de rock.E não podemos "botar prá quebrar" sob pena de criarmos conflitos entre os presentes,quando a loucura atinge níveis insuportáveis,gerando brigas, confusões e comportamentos inadequados,mas tendo que manter o som "loko".Isso ocorre não apenas onde se toca rock.Baladas tecno eletrônicas ridículas tocam a mesma música insuportavelmente alta durante toda a noite sem parar, para manter a loucura em níveis absurdos regada a ecstasy e todos os tipos de bebidas,casas country-sertanejas universitárias adotam o som arrasta-pé sem moderação com quantidades estúpidas de álcool sendo ingeridas, onde o pagode é tocado,ninguém pode ficar apenas curtindo o som, todos tem que participar o tempo todo cantando aos berros acompanhando as coreografias e os coraçõezinhos,sempre com muita loucura e álcool  rolando solto,os shwos de axé e carnaval sem comentários:AÊ  GALERA!!!!!!!!!!! aos berros tem que ser repetido milhaares de vezes pela vida afora para os bêbados permanecerem no êxtase da loucura, os bailes funks,seguem em recintos fechados ou praças públicas demonstram a que ponto a loucura pode chegar, com meninas de 12,13 anos , de classe baixa ou milionárias dançando lascivamente obras primas da loucura da imbecilidade humana como: senta na cabecinha,senta na cabecinha....no norte e nordeste os forrós seguem a mesma tendência dos excessos de locura, o mesmo
acontecendo lá pras bandas do sul,onde os  bailões gaúchos tradicionais no CTGs deram lugar a baladas  louquíssimas,como o vaneirão sendo substituídos pelo "tchê music" em casas noturnas onde a loucura é o foco, e não as prendas em suas danças e trajes típicos...
Está na hora de alguém tomar providência. Não apenas em relação às regras e atitudes para impedir que fatos trágicos como esse voltem a se repetir,isso é óbvio. Com certeza,nos próximos meses a fiscalização vai ser incrementada, políticos aproveitadores vão criar mais leis rigorosas sobre o assunto  apenas para aparecerem na mídia, leis que nunca serão cumpridas,alguns locais serão fechados,outros farão obras visando esse lado da segurança,mas enquanto a loucura não for contida,a possibilidade disso  ocorrer novamente sempre vai estar presente,nossos formadores de opiniões tem que mudar o comportamento.Chegou a hora de acabar com o domínio da loucura.Nossa juventude tem que perceber que não temos que viver todo dia como se o mundo fosse acabar amanhã,embora para alguns isso aconteça, como para as infelizes vítimas de Santa Maria.
Vamos deixar a locura restrita aos sanatórios e hospícios.Ninguém precisa de loucura para ser feliz.Vamos dizer não  à locura. Talvez não resolvamos todos os problemas,mas  é um começo.

6 comentários:

  1. Texto perfeito! Vamos divulgar. Chega de loucuras!!!

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  2. Enquanto lia o seu texto fui vendo a carinha de meu neto Enrico que tem 14 anos e senti aquêle aperto ao pensar que logo mais, daqui alguns aninhos sòmente, o meu neto estará certamente pelas baladas da vida.
    As tragédias,principalmente no Brasil são quase sempre anunciadas,lastimável.
    Perdemos tantos jovens.
    LUTO

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  3. Você escreveu sob um prisma diferente do que estamos ouvindo, de quem vive a noite
    muito boa sua análise

    Antonio Carlos

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  4. Triste demais o mundo estar vivendo tantas loucuras

    Ana Maria

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  5. Parabéns pela lucidez e correção das palavras!
    Parabéns pela coragem de expor o lado de quem está em cima do palco, sendo pressionado a agradar um público cada vez mais 'louco'!
    Sou mãe de uma jovem na mesma faixa etária daqueles que, coletivamente, deixaram esta existência na madrugada do domingo. Espero que ela continue a não deixar que a 'loucura' não tome conta da sua mente.

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  6. interessante ler como um músico de rock enxerga os problemas existentes nas boates,casas noturnas
    muito bom

    Pedro Montês

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