domingo, 7 de outubro de 2012

Lembranças de uma avó

Minhas filhas, assim como todas as mulheres modernas, trabalham fora exercendo a chamada "dupla jornada”.
Por conta disso, estou sempre rodeada dos netos. Eles vêm em busca de um dengo, de ajuda nos trabalhos escolares e, principalmente, saborear alguns quitutes, típicos de "casa da vovó".
Mas, gostam muito, também, de ouvir as histórias que conto sobre minha infância. Desde o mais velho, com 20 anos, até o pequeno, com 7, divertem-se muito ouvindo os relatos das travessuras, das brincadeiras de rua, todas elas já conhecidas de todos nós. Eles gostam de saber os detalhes e já tive que contar a mesma história várias vezes.
 Outro dia, o menorzinho, Leonardo, hoje com 7 anos, olhou-me com tristeza e perguntou:
- Vovó, você não tinha play?
Expliquei a ele, que a rua era o play das crianças e ali nos divertíamos muito, brincando de "estátua", de "jogar sério" "jogar pedrinhas", brincadeiras que ele não conhecia. Inclusive, o teatrinho de rua, onde encenávamos pequenos roteiros ou sinopses, feitos pelos mais criativos. Também fazíamos as roupas dos personagens, com muito papel crepom, cola e purpurina. Tudo muito colorido.
Nossa plateia era formada pelos vizinhos, que traziam suas cadeiras e, ainda, nos aplaudiam muito. Depois, servíamos lanchinhos de pão de forma e água com groselha, comprada em litro, no Zé da venda.
 Meu netinho, ainda não satisfeito, tornou a perguntar: -E, também não tinha shopping?
Novamente tive que explicar que nosso shopping era ali mesmo, a céu aberto, aonde os vendedores vinham até nós para oferecerem seus produtos. Eram os mascates que vendiam roupas, vendedores de livros, os  verdureiros, o peixeiro, etc. Mas o que mais gostávamos mesmo, eram dos vendedores de  doce como o "quebra-queixo", "machadinha", "biju" e, principalmente, do vendedor de "sonhos e "maria-mole", com seu carrinho envidraçado e todo pintado de branco. Que delícia!
Além dos vendedores, tínhamos, também, os compradores. Uns compravam jornais e papelão, outros garrafas, metais, etc. 
E nós, (acho) iniciando a reciclagem, juntávamos todo esse material e ficávamos à espera dos compradores. Os cruzeiros e centavos, obtidos com essa transação, eram facilmente trocados por gibis, ou pelas delícias açucaradas descritas à cima.
Acho que hoe é difícl para uma criança, imaginar toda essa liberdade que tínhamos, pois as ruas, agora, são assustadoras.

Bernadete Pedroso

5 comentários:

  1. Berna

    E que play espetacular tínhamos!Todas as ruas do bairro aos nosso pés.Pensar que hoje as crianças mal sabem o que é a rua, sabem que é o local por onde os carros andam.
    Adorei as indagações do pequeno Leonardo.
    abraço grande

    marcia ovando

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  2. por isso tudo é que se diz que ser avó é ser mãe com bastante açucar

    Maria Pia Oliveira

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  3. Muito bom êsse diálogo entre vovó e neto gostei muito
    a realidade hoje é tão menos agradável do que a nossa novos tempos

    Jairo

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  4. me deu até água na boca de lembrar dos carrinhos que vendiam gostosas guloseimas
    parabéns vovó muito gostoso o seu texto

    Ivete Maria

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  5. Obrigada amigos! Obrigada também a você Marcia,por publicar.
    Bjos / Bernadete

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