terça-feira, 19 de junho de 2012

Velhas Memórias



Há quem diga que a expressão "ficar" é do século XX / XXI , acredito que a palavra não era usada nos anos 70, mas com certeza isso já existia nesse tempo, não tão abertamente declarado mas sutilmente acontecia...
Hoje voltando aos meus 13 anos vejo que meu príncipe encantado foi meu primeiro ficante. Eu só o encontrava nos bailinhos da Manja ou nos bailes do Clube Marajoara, e por algumas vezes também no Cauí que ficava na Al Maracatins,então resumindo ele era meu ficante dançante ,não menosprezando o amor que sentia por ele no auge da minha adolescência! Aliás, acredito que foi esse auge que espantou o garoto de 20 anos ,2 anos depois ele arrumou uma de 19 anos que como ele disse ; com ela ele podia fazer coisas que não podia fazer comigo...santa ignorância!!!
Chorei por 3 dias seguidos,amaldiçoando a tal Mayra (era seu nome) .E por mais de 2 meses aquele aperto no coração não dava passagem pra nada....
Chegou o carnaval e aí até tentei esquecer nos braços de outro no embalo de "Máscara Negra"...tão intenso quanto a duração do carnaval...
O dias passaram os meses voaram ,escutei borburinhos que no Rio de Janeiro meu tio estava trancado no apartamento e que todas as portas estavam com sacos de areia. Ouvi meus pais preocupados com o que poderia acontecer em São Paulo,fui com ele comprar areia e sacos de estopas pois deveríamos nos preparar para o pior.
No Reporter Esso passavam imagens de estudantes apanhando nas ruas do Rio de Janeiro,mas tudo era uma nuvem sob minha cabeça ôca ...a dor no meu coração era a coisa mais importante no momento, e foi assim que a revolução de 68 passou na minha vida!
Filmes no cine Joá no cine Jurucê e o voley no Alberto Levy ajudaram a me refazer e infelizmente também a repetir o primeiro colegial e assim a passar para o período da manha. Foi aí que conheci a famosa troca de bilhetes. Eu deixava um bilhete debaixo da carteira dizendo quem eu era e o rapaz da noite deixava a resposta. Minhas respostas eram sempre em caneta verde,escrita perfeita e alinhada .Era uma aventura deliciosa! A espera do dia seguinte para poder ler as respostas era eletrizante ( a tal da adrenalina dos dias de hoje),assim começou a era "virtual" não é mesmo?De alguma maneira estávamos lá à procura do nosso par perfeito! Rsrsrs
Ele estava cursando o último ano do colegial e coincidente era meu vizinho de rua ,eu na Nhambiquaras e ele na Iraí. Sem saber que éramos vizinhos trocamos bilhetes por algumas semanas.O encontro de conhecimento foi em um lugar público é claro no baile da Manja.
Ao som de Ray Coniff , Elvis , Roberto Carlos e grande jovem Guarda,eu comecei a colocar uma pedra no dono do DKV azul.
Eu já estava com 16 anos mais ou menos e o ficante ficou meio nublado no meu pequeno passado,mas um dia indo à escola encontrei ele no caminho e assim me ofereceu uma carona,garanto a todos que minha perna tremeu ,meu coração disparou e foi com um fio de voz que aceitei,e também foi assim que meu príncipe virou um sapo ,quando ao chegar perto do Levy ele disse muito sério:


"Iara voce sabe que nóis somo um pra outro ,agente se separou, mais nóis vai ficar junto!!!!!!"
Acabou....meu príncipe derreteu ,caiu do seu trono e se espatifou no chão!!!!!!


texto: Iara Schaeffer


 
 
 
 


 
 
 
 

9 comentários:

  1. Me lembro desse tempo e dos bilhetinhos que deixavamos embaixo da carteira, até que um dia a inspetora de alunos descobriu e acabou com a brincadeira.kkk mas foi bom assim mesmo.Quanto aos ficantes, acho que vc tinha razão, mas eles viraram sapo.kkk
    Maria Elizabete Verdiani

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  2. Muito bom amiga... ainda bem que"procuramos" sempre melhorar,né???O que não pode é "nóis" passar por essa vida sem todas essas coisas boas e engraçadas!!!bjk

    Erika Rosanne Schrijnemaekers

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  3. Iara

    você tem um jeitinho leve e engraçado de escrever

    abraço

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  4. kkk depois do NÓIS o príncipe tinha que virar sapo mesmo

    Ana Lucia

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  5. Eu tambémestudei no Alberto Levy e deixava bilhetinhos para a minha paquera

    DinoráMaria

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  6. Iara,

    Adorei tuas memórias principalmente pela identidade que há nela com as minhas próprias recordações.

    Você me tirou um peso das costas pelo remorso da alienação de 68, pois vi que outras meninas da época cometeram o mesmo pecado.

    Quantoto a tua desilusão amorosa, tenho um consolo para você: ele esse amor não resistiu à gramática, realmente não era amor, você não perdeu nada!!!

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  7. Muito boa sua história e ninguém merece NÓIS ,nessa fase da vida alguns príncipes viram sapo,pensando melhor em tôdas as fases da vida existem muitos sapos espalhados por ai


    Maria Dolores Cunha

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  8. Sensacional, adoro viajar nas memórias dessa epoca. M.Silvia (Pi)

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  9. Obrigada gente pelos lindos comentários!

    Iara schaeffer

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