sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Um fragmento de memórias do bairro paulistano onde nasci e me criei




“Eu moro em Indianópolis... e não em Moema!”, bradava Jorge Frassati, meu pai, quando alguém
mencionava o novo nome do nosso bairro. Foram anos e anos de inconformismo com a mudança. Conta-se
que o prefeito Jânio Quadros atendeu à vontade de moradores, que em 1987 lhe entregaram abaixo-
assinado pedindo a alteração. Não devem ter sido tantos.
Soube que muita gente não gostou, mas o nome pegou e hoje é um importante bairro de classe alta, onde
mora “gente fina”, “muito dotô”, como custumava dizer o seu Dias, porteiro de um edifício na alameda dos
Anapurús, próximo à nossa casa, de número 1071 da mesma rua.
Nem sempre foi assim.
Quando meu avô, Francesco Mario Frassati, e sua esposa Rosa Maria, ambos imigrantes italianos, chegaram
por lá em 1927, os residentes não chegavam a três mil. Abriram um dos três primeiros pontos de comércio
de Indianópolis, uma bicicletaria que, ampliada, se transformou na Casa Frassati, loja de tecidos e
armarinhos, na Av. Jandira. A partir da década de 1960 o estabelecimento se tornou referência paulistana na
venda de uniformes escolares. Acredito que todos os pais dos alunos que estudaram nas escolas da região
passaram por lá para buscar a primeira peça de roupa com o distintivo bordado do colégio do seu filho.
Os Frassati, orgulhosamente, fizeram parte do nascimento e do desenvolvimento do bairro. Quem visitar a
igreja do “Largo” de Nossa Senhora Aparecida poderá ver os vitrais doados pelo nôno Mario. Ele e Dona
Maria participaram da coleta de fundos para erguer o belo templo, sob a orientação dos seus amigos, Raul
Loureiro e sua esposa Antonieta, notáveis personagens da história de Indianópolis.
Por falar em coleta, uma lembrança marcante da minha infância é a da contagem do dinheiro da “esmola”
das missas dominicais. Após o almoço Dona Maria derramava sobre uma enooooorme mesa da lavanderia
(pelo menos parecia assim para mim aos seis ou sete anos...) o conteúdo das sacolas que continham as
oferendas dos fiéis durante as missas matinais. Os sacos me lembravam os coadores de café da época. Eram
feitos de flanela ou feltro vermelho com uma armação circular presa a um cabo, que senhoras apresentavam
aos doadores por entre as fileiras de bancos da nave da igreja. Ali os generosos fiéis depositavam seu
incentivo monetário semanal para que as obras da Cúria local pudessem ter continuidade. Formava-se acima
do móvel uma montanha de dinheiro amarrotado que nós: meus avós, tios e eu, íamos alisando e reunindo
em montinhos, conforme seus respectivos valores. A contagem ficava a cargo de minha nona.
Incrível pensar-se que todo aquele dinheiro ficava ali exposto. Nenhum controle do pároco ou de seus
acólitos era necessário... e nenhum tostão era desviado para os nossos bolsos. Na segunda feira o valor
TOTAL coletado estaria em maços amarrados por elásticos sobre a mesa da sacristia. As virtudes, valores e a
fé professada pelos meus avós jamais permitiria tal descaminho. Gosto de pensar que hoje esse tipo de
conduta ainda é a regra, mas...
Voltando ao tema principal, mesmo com a indignação do Sr. Jorge Frassati, Moema passou a ser um dos
melhores lugares para se viver em São Paulo. Nos últimos anos de sua existência meu pai já não se
importava mais como a municipalidade definia aquele espaço em que tinha passado quase toda a sua vida.
Mas ao partir desta para melhor, uma certeza foi embora com ele: Indianópolis era o verdadeiro nome do
seu bairro... e ponto final!

MARIO JORGE FRASSATI -2016

13 comentários:

  1. Boa tarde, Mario. Obrigada por contar para o blog um pouquinho da sua história. Se tiver mais, agradeço o envio.
    Quem não conheceu a famosa Frassati! Ponto importante de MOema.

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  2. Loja Frassati ? minha mãe comprava meus uniformes lá.
    Marli S.

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  3. \Frassati acho que todas as mães estavam sempre podr lá

    M. Regina

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  4. Mario, diversas vezes tentei postar sua postagem sem interrupções, mas sempre sai dessa maneira que postei. A fotografia não consigo salvar de jeito nenhum.

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  5. Que texto lindo!!! Quantas vezes fui com minha mãe comprar o bolso com o emblema do Levy. Que orgulho!!! M. Fernanda.

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  6. Devo ter convivido com o Mario Frassati, cresci indo quase todos os dias na casa de meus avós, Alfeu e Violeta, vizinhos do Mario, pois sempre moraram na Anapurus, no nº 1.098 .... e até hoje, com quase 70 anos, continuo em Moema!

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    1. Bom dia! obrigada pelo comentário. Quem sabe você tem mais relatos para contar e quem sabe até fotos! Contribua com o blog. O blog também está no facebook, dá uma olhada. Meu contato: marciaovando@hotmail.com, abraço

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  7. EU LEMBRO QUE ESTUDAVA COM O FILHO DO DONO DA LOJA NO NOSSA SENHORA APARECIDA....SOU DE 1958, SERÁ O MARIO JORGE?



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    1. Olá Rossana. Os filhos do nôno Mario eram o Jorge (meu pai) e o Antonio, que manteve a Casa Frassati até os anos 2000. Eu nasci em 1953 e meu irmão, João, em 1957. Talvez tenha sido com ele que estudou. Ambos no N.Sra. Aparecida. Bons tempos....

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    2. obrigada pelo comentário

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  8. Heitor Monteiro Silva4/02/2023 1:15 PM

    conheci Moema em 1967 e frequentei um clube chamado caramuru quando ia dançar , tenho muita saudades desse bairro e das pessoas que ai conheci . Pedia se alguém tiver foto desse clube caramuru se me podia enviar pois estou morando na Europa mas nunca esqueci esse tempo maravilhoso que ai passei

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