Em 70 anos de história, a Calçados Eurico já fez de tudo um pouco pelos seus clientes, ajudou a superar complexos e até salvou casamentos. Especialista em tamanhos grandes, a loja coleciona depoimentos de consumidores agradecidos por encontrar o seu número com a opção de escolha por diferentes modelos. Nídia Rosenthal, uma das herdeiras do negócio, não esquece do cheirinho de maçã que tomava conta da loja toda vez que uma cliente de Fraiburgo (SC) enviava uma caixa da fruta em agradecimento à entrega de um sapato. “Era muita gentileza. A gente estava vendendo e ganhando com isso. É muito bom esse retorno, é como um aplauso para o artista.”
Terminava o ano de 1936.
E com ele, a vida tranquila de uma família burguesa de um dos maiores centros culturais da Alemanha: Dusseldorf. A guerra trouxe-a para o Brasil, mais exatamente para uma fazenda de café e algodão próxima a Marília, no interior de São Paulo. Dona Leonie, contadora formada, assumiu funções compatíveis no escritório da fazenda, e o senhor Erich recebeu o cargo de almoxarife. Os filhos do casal, Gert, de 9 anos e Hans, de 7, frequentavam a escola da fazenda, que se resumia a uma classe para todas as idades. E cuidavam da limpeza e arrumação da casa. Em princípios de 1938, a família Rosenthal parte novamente. Desta vez para São Paulo, Capital. | A família Rosenthal e o amigo Steiner (centro) |
Dona Leonie logo começou a trabalhar em um banco, enquanto o senhor Erich procurava um local para montar seu próprio negócio.
Um dia tomou um bonde na Praça da Sé. O bonde ia até Santo Amaro, mas o senhor Erich resolveu descer em Indianópolis.
Em meados de 1938...
Herr Erich Rosenthal, que nesta época já era chamado de Senhor Eurico, tinha encontrado o lugar ideal para desenvolver seu negócio. Um bairro misto, afastado do centro, tal e qual era sua loja na Alemanha. Só que na verdade, a Avenida Jandira pouco ou nada tinha a ver com a Dusseldorfer Strasse.
Era uma rua de terra, que virava rio em dia de chuva, para alegria da meninada com seus barquinhos de papel. O comércio era mínimo: uma padaria na esquina, um barbeiro, um relojoeiro, uma loja de móveis, uma de uniformes escolares e alguns bazares. Como disse um pedestre bem humorado, era preciso ter coragem para abrir uma loja naquele fim de mundo.
Mas o senhor Eurico acreditou.
O bairro era bom. Os funcionários das fábricas e indústrias da redondeza eram uma clientela em potencial. Na época, tinha a Metalúrgica Barbará, a Reiche, fabricante de parafusos, a Junker, de fogões, a Sherwin Williams, de tintas, e poucas outras.
A colônia alemã, atraída pela indústria em crescimento, era bastante expressiva.
A linha de bonde Centro-Indianópolis fazia seu balão de retorno praticamente na porta, o que era garantia de movimento. E o que era mais importante: não havia na região nenhuma loja de calçados.
Mas tudo isto não significava, de modo algum, que os negócios seriam fáceis.
No Brasil, as coisas funcionavam de forma um pouco estranha aos modos germânicos do senhor Eurico.
A pontualidade não era prática muito difundida no país, qualidade não era a principal preocupação dos fabricantes de calçados, e a pechincha era uma mania nacional.
Aos poucos, com o apoio da família, e a vivência do amigo e funcionário Jacob no ramo de calçados, o senhor Eurico foi descobrindo as manhas do negócio made in Brasil.
Seguindo os palpites de Jacob, o senhor Eurico aprendia a comprar a crédito de bons fornecedores, dona Leonie fazia clientes respondendo à pechincha com pequenos descontos, e os filhos divulgavam a imagem da loja distribuindo folhetos de propaganda. No dia 24 de dezembro de 1938, absolutamente contagiado pelo jeitinho brasileiro, o casal esticou o expediente das seis e meia da tarde até altas horas da noite, para atender os retardatários do Natal. Resultado: antes da Missa do Galo, a Casa Eurico cantava seu primeiro recorde de vendas: um conto de réis num único dia. A façanha se repetiu no carnaval, registrando a maior venda de tênis do ano. |
Arrematou um lote de calçados masculinos número nos tamanhos 43 e 44, anunciou no jornal alemão e vendeu tudo em poucos dias.
Ele tinha acabado de descobrir um segmento novo e inexplorado no ramo de calçados: o dos sapatos de números grandes, que a Casa Eurico lidera até hoje.
A loja no bairro
No fim dos anos 40, São Paulo já era o maior centro industrial da América Latina. Para ter sucesso no comércio era preciso oferecer produtos diferenciados, vender status e fazer propaganda. A Casa Eurico aumentou suas vitrines e ganhou uma bela marquise na entrada, sinal da arquitetura dos novos tempos. Os anúncios veiculados no jornal alemão e no rádio se incumbiam de trazer a clientela selecionada. O carrossel infantil instalado bem no meio da loja trazia crianças com suas mamães a tiracolo. |
Mas, segundo o senhor Eurico, a alma do negócio continuava sendo dona Leonie. Gert e Hans, os filhos do casal, já não trabalhavam na loja: Gert emigrou para os Estados Unidos, onde vive até hoje, e Hans se formou Engenheiro Civil e seguiu sua carreira em São Paulo. Nesta época, o casal Eurico e Leonie dividiam a responsabilidade e o trabalho com alguns funcionários competentes e dedicados. |
Com a construção do Shopping Center Ibirapuera, Moema perdeu sua dimensão regional para se tornar um bairro metropolitano. As casas foram cedendo seu lugar para lojas e edifícios. Aumentou a população local, e gente de toda a cidade passou a frequentar e comprar no bairro.
Era preciso modernizar a imagem da Casa Eurico.
Um belo banho de boutique, e a loja abriu suas portas para uma nova clientela, vinda de todos os cantos da cidade.
Aos sábados, a loja ficava tão cheia que as pessoas se aglomeravam à porta. Um sucesso que infelizmente o senhor Eurico teve pouco tempo para saborear. Com sua morte em 1976, o senhor Guimarães, gerente da loja desde 1964, passou a ser o braço direito de dona Leonie, ajudando-a em todas as transações com fornecedores. O filho Hans passou a assessorá-la na coordenação e solução de problemas administrativos, e sua nora, Liliana, auxiliou-a nos serviços de escritório por alguns anos.
Novos tempos
Em 1990, já com 90 anos, Dona Leonie achou que era hora de se aposentar. Seu filho Hans assumiu, então, a direção da loja ao lado das filhas e do Sr. Guimarães. No final de 1999 mais uma reforma fez com que a Casa Eurico se tornasse muito mais ampla, bonita e moderna.
Hirany Guimarães Moreira é uma espécie de braço direito da empresa, um dos entusiastas e responsável em tornar a loja exclusiva para pés grandes.Conhecido como o senhor Guimarães êle é funcionário desde 1961 quando tinha 21 anos.
Betty é uma campeã de vendas da loja e trabalha na empresa há quase 50 anos.
Casa Eurico na sua terceira geração: administrada pelas irmãs: Claudia, Nidia e Vera Rosenthal netas dos fundadores.
fonte: site Empreendedor e Casa Eurico
Marcia Ovando
Tive um namorado que comprava nessa loje e eu ia sempre com êle escolher seu sapato
ResponderExcluirMaria de Lurdes
A Casa Eurico faz parte do bairro de Moema
ResponderExcluirJosé
gostei de conhecer a história dessa loja tão antiga no bairro
ResponderExcluirLia A.
DE FATO , A LOJA FAZ PARTE DE MOEMA, DE NOSSA VIDA... E AGORA, MORANDO EM ATIBAIA, VAMOS ATÉ A EURICO PARA COMPRAR SAPATOS PARA MEU MARIDO.
ResponderExcluirPuxa... E lá se vão alguns anos. Foi assim que passou em minha mente ao ler neste blog sobre o Sr. Eurico. Isso me levou aos anos 1968 até1970 onde eu garoto com 17 anos comecei trabalhar em uma barbearia do Sr. Atílio qual tenho saudades pois apesar da diferença de idade foi um grande amigo. E foi ali que conheci o Sr Eurico que sempre dava uma "passadinha" pela barbearia par conversar com O sr Atílio. Não pude também deixar de recordar Do Helio da banca de Jornal , Japonês da relojoaria, também um "bando" de mendigos como Risadinha, Diogo, o bondes o qual estive usando até o ultimo dia. também muita gente que não daria para escrever aqui. Bom saber da continuidade e o sucesso que da Casa Eurico.
ResponderExcluirObrigada Adem pelo eu comentário, acho que você pode contar mais
Excluirda época em que trabalhou na barbearia.Essa barbearia ficava na Avenida Ibirapuera? ou em outra rua?
Depois de 7 anos, mas respondendo... A barbearia do Sr Atílio era na própria Av. Jandira, mas do lado oposto da casa Eurico, Era um prédio antigo já em minha época que fazia esquina com ,Av. Indianópolis e avançava pela Av. Jandira com vários salões, que eu lembre eram na esquina um restaurante do Sr Roque, já na Jandira ,uma lojinha que faziam concerto de escamentos etc... A Barbearia, em seguida a relojoaria.
ResponderExcluirAproveitando o momento para relatar um fato que nunca me saiu da mente por ser extremamente marcante. Tinha eu completa 18 anos no dia 14 de Junho de 1968 e logo no dia 26 do mesmo mês e ano um jovem chamado Mario Kozel Filho foi morto pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) E eu vi seu pai perambulando pela Av. Jandira, cabisbaixo com o rosto entristecido pela morte de seu filho. Lembrando que Seu Mario pai era funcionário da antiga Fiação Indiana, que se não falha minha memória ´=e onde está situado o Shopping Ibirapuera. Este fato está ainda muito vivo em minha mente. Quem não conhece é só pesquisar no Google e verá quem é Mario Kozel filho.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirAdemir, boa tarde
ResponderExcluirMuito obrigada pelos comentários.